QUINO – O adeus ao ETERNO mestre!

O cartunista argentino Quino, criador da Mafalda, faleceu vítima de um AVC (em 30/9/2020) aos 88 anos. Quino foi uma das vozes de resistência, não só contra a ditadura argentina, mas contra todas as que vigoravam na América do Sul. Mafalda, sua principal criação, foi um dos estandartes contra a truculência de coturnos, e contra o capitalismo selvagem, tudo, sem perder a doçura. Quino foi publicado em diversos países. Em 1976 mudou-se para Milão, na Itália; em 1977, a pedido da UNICEF, as tirinhas da Mafalda ilustraram a edição internacional da campanha de Declaração Mundial dos Direitos Universais da Criança. Em 1982, Quino foi eleito o “Desenhista do Ano”. Seu trabalho recebeu vários prêmios, entre os quais, o “Prêmio das Astúrias de Comunicação e Humanidades”, na Espanha, em 2014.
 

TEXTO e ARTE: Jorginho

O mundo é feito de gente que desafia a mediocridade, de pessoas inquietas, de seres que com sua simplicidade deixam marcas em outras, mesmo que jamais se encontrem pessoalmente. Assim foi Quino. Assim é Quino. No último dia 30 de setembro, o mundo deu adeus a Joaquin Salvador Lavado Tejón, mundialmente conhecido como Quino. Dedicando-se desde cedo aos quadrinhos, e tendo trabalhos publicados desde 1954. Seu primeiro livro, porém, foi lançado em 1963: “Mundo Quino”. Em 1964, o autor criou para uma campanha de vendas de eletrodomésticos a sua personagem mais famosa: Mafalda. A campanha nunca aconteceu, mas Mafalda ganhou seu primeiro cartum no dia 29 de setembro de 1964. Quino continuou produzindo a tira por dez anos, encontrando-se ali críticas contra o autoritarismo, o conservadorismo e os dogmas do capitalismo. Depois, prosseguiu com cartuns e charges, sempre denunciando o ridículo do humano em si. Com profundidade e simplicidade, estimulava o questionamento de tudo. Quino foi um filósofo do traço, cada linha, cada pensamento, cada ironia, servia para provocar e construir nosso saber sobre o tema abordado. Muitos o comparam a Charles M. Schulz, criador de Penauts. De fato, os dois são cronistas atemporais, porém, Quino vai além de sua criação mais famosa, e ainda por cima, ele viaja por temas mais obscuros, como as ditaduras latinas.

Conheci a obra de Quino quando tinha doze anos e fazia um curso comunitário de desenho no Centro Vida Humanístico, em Porto Alegre/RS (era um centro de cursos comunitários da capital gaúcha inspirado nos ideais de Leonel Brizola), a professora Izabela (saudades de você, professora), vendo que eu desenhava teimosamente um personagem chamado “O Mosca”, me perguntou se eu não queria conhecer outro gênero que não o de super-herói. Eu já conhecia, pois na verdade aprendi a ler com Hagar e o Recruta Zero nas páginas dominicais do Jornal Zero Hora. Porém, ela me trouxe sua coleção a Mafalda. Levei para casa e devorei. No outro dia, quando devolvi o material, ela me levou até à biblioteca do Centro Vida e me mostrou álbuns do Quino, solo e com a Mafalda, li todos, e foi uma paixão definidora. Eu queria ser cartunista. Eu queria desenhar como Quino, criar personagens como os dele. Se hoje eu desenho profissionalmente, é por causa dele. 

Quino se foi aos 88 anos de vida, um dia após sua maior criação completar 56 anos da sua primeira publicação. Mas, Quino é, e Quino será, eterno e significante para todos que gostem de quadrinhos, de desenhos, de reflexão, de poesia, daqueles que lutam contra o autoritarismo, contra a tirania de um conservadorismo cruel. Ler Quino é como escutar Fito Páez, como tomar um bom vinho, como vibrar com o gol de Maradona, como dançar tango em Buenos Aires. Estou de luto, por um mês não tomarei sopa. – Jorginho.

JORGINHO é filósofo, educador social, agitador cultural, administrador do ColetiveArts (grupo de artistas e escritores da região de Porto Alegre/RS), acadêmico de pedagogia, torcedor do Grêmio, mas não gosta de futebol, gosta é do Grêmio. Trabalha como ilustrador, criador de conteúdo e tudo que seja relacionado ao desenho, incluindo participações em exposições nacionais e internacionais na área de cartuns, quadrinhos, charges e desenho em geral. Já ilustrou inúmeros livros infantis, também foi autor pela plataforma Elefante Letrado. Trabalha com oficinas de desenho, ilustrações e fanzines e produz o podcast cultural Coletive Som – A voz da Arte.

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